Animes videojogáveis: uma retrospectiva do fenómeno em Portugal e na Europa - Parte 2

Nesta segunda parte, serão focados outros animes populares que tiveram direito a lançamento de videojogos na Europa. As principais séries de animação conhecidas em Portugal serão abordadas noutras partes, dada a quantidade enorme de jogos que foram lançados.

Gungrave

Ao contrário do que muitos pensam, Gungrave não se tratou de um anime que teve direito a jogo. Tal como outros jogos de séries populares, como Pokémon ou Inazuma Eleven, muitas vezes são os próprios jogos que inspiram os criadores de séries no Japão a produzir a sua versão desenhada ou animada. Gungrave trata-se de um TPS desenvolvido pela Red Entertainment e publicado pela Sega que se tornou popular no meio da indústria dos videojogos devido ao excelente design dos personagens. Conta a história de Grave, um homem sedento de vingança do melhor amigo que faz parte de uma organização mafiosa chamada Millenium. O jogo recebeu uma sequela com o subtítulo "Overdose" e ambos foram lançados em Portugal. Curiosamente, apesar do sucesso que se traduziu numa série de anime, o jogo não é muito popular no nosso país.

Akira
Akira foi e ainda é considerado um dos melhores filmes de animação japonesa de sempre. A qualidade da animação, para quem assistiu no seu surgimento, era deveras impressionante e quase inigualável. O filme mantém um lugar de destaque ainda nos standards de hoje e foi de tal modo popular que Portugal foi um país privilegiado que recebeu a versão colorida do manga totalmente traduzido em português.

O filme passa-se numa versão cyberpunk futurista de Tokyo, repleta de bikers e de gangs.  Conta-nos a história de um rapaz chamado Tetsuo que possui poderes psíquicos muito semelhantes aos de um 'esper' que destruiu Tokyo há 31 anos atrás, e do seu amigo e rival Kaneda, que irá tentar evitar que os poderes de Tetsuo voltem a provocar uma catástrofe.

Akira nunca recebeu a devida atenção ao nível dos videojogos, contrariamente a tantos outros fenómenos de sucesso no Japão. Foi lançado em 2002 um jogo de Pinball de arcada entitulado Akira Psycho Pinball para a Playstation 2 que chegou à Europa.

Ghost in the Shell
À semelhança de Akira, Ghost in the Shell também é um dos grandes nomes que fizeram história no cinema da animação japonesa no Japão. O filme teve origem num manga e retrata a história de um cyborg feminino chamado Kusanagi, lider de uma equipa de assalto, cuja missão passa por capturar um misterioso hacker conhecido como 'Puppet Master'. Depressa a história se desenrola num enredo mais complexo. O filme recebeu uma sequela sub-entitulada de Innocence e duas séries de anime: Stand Alone Complex e 2nd GIG. A primeira série deu origem ao OVA Stand Alone Complex: Solid State Society.

Os títulos lançados na Europa foram praticamente todos os que poderiam ter sido lançados. Para a Playstation 1 chegou-nos Ghost in The Shell, um jogo onde controlamos um Fuchikoma tank em primeira e terceira pessoa e onde a personagem principal é uma rookie envolvida com a mesma equipa em que se baseia o filme original.

Para a PS2 foi lançado o jogo Ghost in The Shell: Stand Alone Complex, um jogo de acção na terceira pessoa que se desenrola no ano de 2030, num espaço temporal situado entre a série com o mesmo nome e a série 2nd GIG. A versão que chegou ao nosso mercado inclui uma slipcase exterior. Na PSP também foi lançado um jogo com nome idêntico mas que no entanto se trata de uma prequela do título da PS2.

Vampire Hunter D
Mais um filme muito popular, inspirado numa obra literária, que teve uma sequela e deu origem a um manga e a um videojogo para a consola Playstation 1. Conta-nos a história de D, um vampiro que deambula numa terra pós apocalíptica recheada de vampiros e de outras criaturas das trevas.

O jogo da Playstation 1 teve duas edições, a versão original e uma versão low cost 'white label'. O jogo é inspirado no segundo filme (Vampire Hunter D: Bloodlust) embora não tenha subtítulo. Curiosamente, o jogo é pouco popular, o filme também é pouco popular em Portugal e a relação entre os dois é praticamente desconhecida do público em geral. O jogo relembra uma mistura (menos boa) de Resident Evil com Castlevania.

Astro Boy
Um dos mangas mais antigos no Japão criou um personagem que perdura até nos dias de hoje e que recebeu variadas séries de animação e um filme em 3D. Astro é um robot criado numa era futurista quando os humanos convivem com tecnologia robótica. O cientista que o criou procurava criar um robot semelhante ao seu falecido filho, Toby, mas mais tarde Astro percebe que é munido de mais sentimentos e de poderes superiores aos que eram de esperar.

Foram lançados vários jogos desta série, mas todos eles são bastante recentes. O jogo da Sega para Playstation 2 baseia-se no anime de 2003, ao passo que a versão de Game Boy Advance, Astro Boy Omega Factor, já se inspira em mais do que uma série de animação.

O lançamento do filme em 2009 deu origem a Astro Boy: The videogame, lançado para PS2, Wii e DS. O jogo é muito medíocre e recebeu críticas bastante negativas, com pontuações abaixo do aceitável.

Mobile Suit Gundam
Em jeito de crítica pessoal, é impressionante como é que uma série tão popular de um franchise com tantos anos de existência nunca tenha chegado às televisões do nosso país...

Mobile Suit Gundam conta com diversas séries e filmes desde 1979 e foi logo desde o início um sucesso no Japão. Cada série tem a sua história, mas a base é sempre a mesma: numa era futurista de exploração espacial, os humanos dependem de Mobile Suits para defender a terra dos exércitos rivais. Munidos de uma tecnologia inferior à dos invasores, Gundam surge como um mobile suit de tecnologia superior e mais evoluído, capaz de fazer frente aos adversários. Cada série desenvolve-se em torno da exploração espacial e do ser humano versus a evolução da raça humana e está repleta de acção, de aventura, de sentimentos de amizade, rivalidade, vingança e enredos por vezes bastante mais complexos do que à primeira aparência. A maioria das séries são visualmente muito apelativas, com histórias elaboradas mas suficientemente simples para se tornarem interessantes e agarrarem o público alvo. Gundam contribuiu para aumentar a popularidade dos animes baseados em Mechas quer no Japão quer no resto do mundo.

Esta série recebeu inúmeros títulos no Japão, muitos mais do que no resto do mundo. A Europa recebeu um pequeno punhado desses títulos, que se estrearam na Europa para a PS1 com os jogos Gundam Battle Assault e Gundam Battle Assault 2. Os títulos são beat'em ups originais devido ao seu sistema de combate onde é possível provocar e receber danos em partes específicas de cada mech. A nível visual e sonoro, são títulos muito apetecíveis!

Para PS2 chegou-nos o título Gundam: Federation vs. Zeon, um action / shooter / hack and slash na terceira pessoa.

Na PS3 tivemos direito a receber um título já relativamente antigo que remonta aos primeiros tempos de vida da PS3 denominado Mobile Suit Gundam: Target in Sight, um action / shooter na terceira pessoa no mesmo género do anterior título da PS2.

Por último, os mais recentes títulos lançados tanto para PS3 como para Xbox 360 correspondem a um crossover entre a série Dynasty Warriors e os famosos robots da série de animação. Até ao momento já foi lançada uma trilogia de títulos: Dynasty Warriors Gundam, Dynasty Warriors Gundam 2 e Dynasty Warriors Gundam 3.

Ainda relacionado com a serie Gundam, está um jogo que, por desconhecimento de muita gente, chegou à Europa para o Game Boy Advance: Super Robot Taisen Original Generation. Esta popular série de jogos de Mechs reúne várias séries de mechs e de robots gigantes existentes no Japão e que não se encontram licenciados fora do país de origem. Por esse motivo é que, da grande quantidade de títulos lançados no território japonês, muito poucos foram os que até agora tiveram um lançamento americano e apenas um jogo chegou à Europa. Trata-se do único jogo da série Super Robot Taisen a chegar ao continente europeu pelo facto de conter basicamente robots da série Gundam, que passou em alguns canais europeus onde se inclui Itália. Dêem graças à 505 Games por conseguir milagrosamente trazer estes títulos para o território europeu!

Inazuma Eleven
Tal como já aconteceu com outros jogos, não foi o anime que deu origem a este jogo, mas sim o jogo que teve primeiro nascimento antes de ser criado o manga e posteriormente o anime. Inazuma Eleven é um popular jogo de futebol táctico / RPG desenhado pela Level 5 que cativou os fãns por ser um título totalmente inovador e original e por combinar toda essa criatividade com um look muito típico das séries japonesas para jovens. Como resultado imediato, transformou-se num franchise que veio a dar origem à série televisiva.

O jogo recebeu uma sequela com duas versões diferentes: Inazuma Eleven Firestorm e Inazuma Eleven: Blizzard. A principal diferença entre as duas versões são as equipas e jogadores existentes numa e noutra, à semelhança do que já acontece com Pokémon.

E mais recentemente, foi também lançada uma versão para a Wii entitulada Inazuma Eleven Strikers e inclusivé um pack com a consola Wii, versão branca. Infelizmente este jogo não é tão aclamado quanto as versões da DS.

Bakugan
Bakugan tornou-se numa série particularmente popular entre o público dos mais jovens e curiosamente foi um insucesso no Japão, mas bem recebido pelo público do ocidente. Retrata um conjunto de míudos chamados Battle Brawlers que fazem duelos de Bakugans, pequenos monstros em forma de bola que se transformam em criaturas de maior dimensão.

A série originou um conjunto de jogos multiplataforma e alguns exclusivos de Nintendo DS. O primeiro título foi lançado em 2009 para a PS2, PS3, PSP, Xbox 360, DS e Wii e chama-se apenas Bakugan Battle Brawlers.

O segundo título da série a ser lançado foi o Bakugan Battle Brawlers: Battle Trainer em 2010. O jogo saiu exclusivamente para DS e foi lançado na forma de pequena edição especial com caixa exterior de cartão que incluía uma figura bónus de um Bakugans.

Pelo meio caminho, foi também lançado um jogo MMO baseado na série entitulado de Bakugan Dimensions, para o PC. Nunca chegou à Europa mas estava disponível na Austrália, um território que também costuma receber as versões PAL dos jogos.

O penúltimo título de Bakugan a alcançar a Europa foi um título multiplataforma entitulado Bakugan: Defenders of the Core. O jogo é baseado na versão japonesa de nome Bakugan New Vestroia e foi lançado para a PS3, PSP, Xbox 360, Wii e DS. A versão DS teve direito a mais uma mini edição especial com caixa exterior de cartão e oferta de um Bakugan (à semelhança da versão anterior, Bakugan Battle Brawlers Battle Trainer, mas desta vez sem se tratar de uma das figuras que se transformam a partir de uma bola). Mais recentemente, a PSP recebeu uma redição na linha PSP Essentials.

Em 2001, foi lançado para a Nintendo DS o jogo Bakugan Rise of the Resistance. Este foi o último título até agora lançado com base na série.

Sailor Moon
Também conhecida como A Navegante da Lua em Portugal, esta popular série a nível mundial, essencialmente destinada a um público feminino, retrata as aventuras de várias estudantes capazes de invocar poderes especiais associados a um planeta para se transformarem em guerreiras que enfrentam as forças do mal. Dos imensos jogos que sairam no Japão, apenas são conhecidos dois títulos que conseguiram alcançar o mercado europeu: O primeiro título foi lançado para a SNES e trata-se de um sidescroller beat'em up do género Streets of Rage.

O segundo jogo é muito mais recente e trata-se de um platformer de qualidade mediocre lançado para a DS e chamado Sailor Moon: La Luna Splente. O jogo não saiu em todos os países da Europa, tendo-se essencialmente focado em redor de Itália, onde a série era particularmente popular.

Na próxima parte serão abordados outros animes igualmente muito populares. As partes finais ficam reservadas para aqueles animes extremamente populares que receberam uma grande quantidade de jogos. Esperamos que continuem a gostar desta série de artigos!

Pedro Dias